Leitura de seres vegetais — oráculos para o reencantamento da terra (2020)
Ana Rita Teodorocom cúmplices Terra Batida
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Dreams often fail for lack of inspired interpreters Yemisi Aribisala, "Dreams, the jurisdiction of the mouth, and non-conclusions on hunger" in Elena Agudio, Marleen Boschen, e Lorenzo Sandoval (eds.), Agropoetics Reader, 2020, p. 104. —Yemisi Aribisala
Para onde escoa o encantamento da terra e da paisagem? Onde se fixou a imagem do deserto? Tendemos para uma visão opaca e mono-cultural? Onde se religa alimento e afeto? É preciso denunciar as manchas de mono-culturas intensivas e super-intensivas que se alastram: oliveiras, amendoeiras, painéis solares, frutos vermelhos... É preciso resgatar o olhar atento, diverso, translúcido para com a paisagem. É preciso reformular as relações com os alimentos: domesticar ou cuidar, produzir ou acompanhar? É preciso diminuir o consumo vazio do alimento, e da paisagem e religar os sentidos aos pensamentos, ao sonho e ao desejo. É preciso contar outras histórias, é preciso deixar outros seres falarem.
Leitura de seres vegetais é uma proposta em forma de oráculo – onde uma pergunta lhe é colocada. O objetivo não se concentra na adivinhação do futuro, mas na observação atenta da soberania do ser vegetal, que é a sua forma, cor, textura, sabor, cheiro... Procurando por via da conversa e da especulação colectiva resgatar do vegetal, possíveis respostas ou novas perspectivas às nossas perguntas.
A proposta enquadra-se num processo maior de pesquisa, experimentação e conexão a decorrer na continuação do projecto “Terra Batida” e que resultará numa peça performativa em 2021. Dentro deste projeto, Ana Rita Teodoro participou numa residência em torno das questões da “terra” no Baixo Alentejo (Ourique, Mértola e Castro Verde). O seu foco de interesse situa-se na degradação dos afectos, humanos e não-humanos, associados à paisagem e cultura alentejana. Uma degradação que encontra causa (entre outras) na descaracterização da paisagem alentejana e da sua diversidade pela propagação de monoculturas intensivas e super intensivas - paisagens puramente econômicas que beneficiam apenas alguns poucos-ricos.
A partilha desta pesquisa será seguida de uma conversa com a investigadora Teresa Castro, em torno da vegetalidade e alimentação.
Coreógrafa artista pluridisciplinar. A base do seu trabalho coreográfico repousa na ideia de uma Anatomia Delirante, que procura extrapolar temporalidades, matérias, texturas, formas, cores, temperaturas e funções do corpo humano convencionado. Na peça Assombro (2015), coleccionou e aprendeu um reportório de canções tradicionais portuguesas cantadas no feminino, libertando pela performance, fantasmas da condição feminina portuguesa.
Professora associada em teoria das imagens no departamento de estudos cinematográficos da Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3. Foi investigadora no museu do quai Branly, em Paris, e no Instituto de História da Ciência Max Planck, em Berlim. Uma parte importante da sua pesquisa recente tem-se concentrado sobre as relações entre cinema e animismo, tema sobre o qual se encontra a terminar uma monografia. No âmbito desta investigação, interessou-se em particular pela questão das formas de vida vegetais, tendo publicado “Queer Botanics” (MAL A Journal of Sexuality and Erotics, 2019) e “The Mediated Plant” (e-flux journal, Setembro 2019) e coordenado, com Perig Pitrou e Marie Rebecchi, o livro Puissances du végétal et cinéma animiste. La vitalité révélée par la technique (Presses du Réel, no prelo).
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