Residências TERRA
Montemor-o-Novo

O Espaço do Tempo
16–30 junho 2020

Participantes: Marta Lança · Rita Natálio · Ana Rita Teodoro · Joana Levi · João Prates Ruivo · Sílvia das Fadas · Vera Mantero · Margarida Mendes

Em Montemor-o-Novo demos alguma continuidade à residência no Monte das Doceitas, em Ourique. O conjunto de atividades de pesquisa passou por receber algumas pessoas no Espaço do Tempo, com experiências de trabalho conectadas com o território alentejano, conhecer alguns projetos locais de cooperação e agroecologia (MINGA, Montemor e Herdade Freixo do Meio) e atravessar algumas práticas performativas com Ana Rita Teodoro e Joana Levi.

PROJEÇÃO E DEBATE
“Luz, Clarão, Fulgor — Augúrios para um enquadramento
não hierárquico e venturoso” (2018–2020)
por Sílvia das Fadas

Este filme-metamorfose em 16mm atravessa experiências da Comuna da Luz, idealizada por Gonçalves Correia em 1916, e seus desdobramentos polifónicos nas experiências comunitárias atuais. Sílvia das Fadas interessa-se pelo cinema enquanto experiência coletiva e expandida. Fez mestrado em cinema no California Institute of the Arts (EUA), foi artista residente na Akademie Schloss Solitude (Alemanha), é doutoranda na Academia de Belas-Artes de Viena (Áustria) e investigadora no Center for Place Culture and Politics, CUNY (EUA). Mudou-se recentemente para Troviscais, no litoral alentejano, onde faz parte de vários coletivos ambientalistas.

CONVERSA COM VERA MANTERO

A coreógrafa Vera Mantero, que participa da residência Terra Batida na Gafanha da Nazaré em torno do eixo MAR, visitou a residência em Montemor-o-Novo e apresentou alguns dos seus trabalhos anteriores em que coorganizou uma iniciativa de hortas urbanas comunitárias e elaborou um projeto de antropologia ficcional em torno da serra do Caldeirão.

POLÍTICAS DO SOLO
apresentação e debate com João Prates Ruivo

Introdução ao projecto doutoral Políticas do Solo, de João Prates Ruivo, que investiga as transformações técnicas dos solos após a Segunda Guerra Mundial, em particular o papel das missões de reconhecimento pedológico na reconfiguração territorial que ocorreu em Angola durante o conflito pela libertação. João Prates Ruivo investiga a centralidade do solo como construção tecno-científica para a naturalização de certas apreensões políticas e económicas da terra. Atualmente pesquisa possibilidades de práticas de resistência situadas no contexto das transformações ecológicas decorrentes do projeto de cultivo intensivo da barragem do Alqueva. Esta conversa integrou a reflexão sobre o uso de amostras de solo como artefatos culturais ou modelos de representação da realidade que permitem entender a complexidade do território alentejano à luz de ciclos longos de manipulação do solo, aplicação de modelos médicos de agricultura intensiva, etc. Seria possível ler na sedimentação do solo o efeito de uma guerra, por exemplo, a guerra colonial? Como pensar o solo nas suas dimensões políticas e tecnocientíficas?

SENSORIOGRAFIA
práticas com Joana Levi

Joana Levi é uma das artistas convidadas a desenvolver uma proposta artística no contexto do Terra Batida. Durante a residência partilhou alguns exercícios de prática sensoriográfica que experimenta imergir nos processos de perceção, sensação e representação envolvidos numa criação poética. A partir de um percurso sensorial pudemos notar sensações, imagens táteis, cheiros da memória, etc. Depois, por meio da experiência deste espaço sensório, buscámos traçar, cegamente, numa folha de papel um percurso feito de riscos, letras e palavras. E, por fim, diante da composição deste mapa do percurso inicial, desta sensório-grafia, experimentámos escrevê-lo como quem adentra um lugar/corpo presente, denso e espesso, onde as palavras foram traçadas.

VISITA À HERDADE DO FREIXO DO MEIO

Visita à herdade através da narração de Alfredo Sindi, de origem basca, sobre a história do projeto. Trata-se de uma herdade alentejana com 600 hectares que, desde 1990, elegeu a agroecologia como ética de gestão, regressando ao agroecossistema medieval do montado como forma de abordar o presente e construir o futuro.

COOPERATIVA INTEGRAL MINGA
Conversa com Jorge Gonçalves

A Minga é uma cooperativa integral sediada em Montemor-o-Novo, operando nas áreas agrícola, comercialização, habitação e serviços. Cada membro de uma cooperativa integral é um prossumidor. A conversa com Jorge Gonçalves teve como objetivo conhecer mais de perto o funcionamento da cooperativa e a sua história, de forma a entender como se criam alternativas aos modelos de produção, cooperação e trabalho, a partir do conceito de heterotopias.

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